Coa-dor

Esquentei a água
Que aparei dos olhos
Na boca do fogão
Que arde no meu peito

Enquanto não borbulha
Indicando sua fervura
Separo o vidro com pó
A que a dor me reduziu

Preto como o olhar meu
E meu cabelo breu
Cheira a café novo
Que não vivias sem

Sem mim também dizias não viver
E agora o que eu tenho aqui?
Senão a caneca de melhor namorada
Que me destes antes de partir

E café! Eu tenho café!
Café e um coa-dor!
E todos os dias eu passo
Um café de mim mesma

No coa-dor de pano
Fica o pó de mim
Feito da dor do engano
Que me causou o fim

Pelo coa-dor passam
Minhas lágrimas de café
De alma lavada
D'alma cheia de fé

Pelo coador passa
A minha essência
Pelo coador passa
O tempo do café coado

Bebo a mim mesma
E no fundo da caneca
A borra me da um sinal
A dor passou, coou, curou,
Afinal.

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