Cocar Azul

Era azul a lagoa,
O céu e o cocar
Verde a mata
E nosso esperançar

Deixamos canoa
Família e lar
No peito a inata
Vontade de plantar

A vida é muito boa
Mas pode melhorar:
Um pouco de terra
Pra gente trabalhar

Montamos nossas casas
Atamos nossas redes
Embalávamos nossos filhos
Quando invadiram o verde

Vestidos de preto e cinza
Mudaram a cor dos sonhos.
Polícia não é diplomata
Não conversa só acata, só ataca

Cortam os punhos das redes
Cortam os punhos das vidas
Ceifam nossa expectativa
De nossa vida construirmos

Polícia, justiça, político, branco
Grande covil aristocrata
Só olham para os seus
Acham que não somos humanos

“São índios, não são humanos”
Somos índios, somos muitos
Somos humanos, temos direitos
Queremos nossos direitos

Temos direito mesmo
Ou para índio é assim:
Ou nada, ou o que der
De qualquer jeito? 

Só queremos o que é nosso
Viver nossa vida em paz
Não é só de teto que casa se faz
Não fazemos só artesanato 

E não nos levem a mal
Não queremos ser ingratos
Nem tampouco teus inquilinos
Vivendo como se fosse de favor

Direito não é favor
Querer terra pra plantar
Em nenhum outro lugar
Chama-se desacato

Querer ser quem se é,
E ser preso e agredido 
Por esse simples querer
Isso sim, branco, não é nada pacato

Não venha pra cá com a sua bravata
Com essas suas palavras bonitas
Que sufocam nossa cultura e nossa vida
Enquanto dão no meu marido uma gravata 

A cada índio sem terra pra plantar
Uma etnia você, branco, mata
Queremos viver, homicida
Deixem-nos viver, genocida

Devolva nossa vida!

Para entender leia: http://natashatardia.blogspot.com.br/2016/07/valda-ferreira-de-souza-lagoa-azul-2008.html?m=1

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